quinta-feira, 13 de setembro de 2012

“Ser um transformador não é uma bênção divina, não cai do céu, precisamos ter uma atitude pró-ativa, parar de apenas reclamar e arregaçar as mangas”.


ENTREVISTA: Mara Mourão, cineasta e diretora do documentário “Quem se Importa” – assista aqui ao trailer do filme.




A presença da cineasta Mara Mourão é uma das atrações da Oficina Lideranças 2012. Ela vai apresentar seu documentário “Quem se Importa”, inédito na região, no dia 17 de outubro no Sesi São José dos Campos. Ao final da exibição Mara fará um bate-papo com o jornalista e filósofo Carlos Abranches, sobre o tema abordado no filme.
Mara Mourão conversou com a equipe da Oficina Lideranças para falar do filme e da importância do engajamento das pessoas na busca de mudanças no mundo. Confira a entrevista:

Seus documentários abordam iniciativas do terceiro setor e o mais recente, “Quem se Importa”, trata do empreendedorismo social, um tema novo, que vem ganhando destaque. O que te inspirou a levar o assunto para o cinema?

“Quem se Importa” é o meu quarto longa metragem, e os dois primeiros filmes foram comédias. Um desses filmes, o “Avassaladoras”, foi um sucesso de bilheteria. E a reação do público era sempre muito boa mas ficava no “ri muito, me diverti muito”. Decidi fazer um documentário sobre o Doutores da Alegria e a resposta ao filme foi completamente diferente do que eu tinha com as comédias. As pessoas me diziam que o filme havia mudado a vida delas. Fiquei chocada com o impacto do filme. Ouvi relatos de professores dizendo que mudaram o jeito de ensinar e de jovens que decidiram dar outro rumo em suas carreiras. Foi então que resolvi fazer um filme na mesma linha, só que mais abrangente. “Quem se importa” veio porque fiquei muito tocada com a reação do público e senti na pele o impacto social que um filme pode causar.

Durante a realização do filme, o que mais te chamou atenção nas histórias de pessoas de realidades tão diferentes, mas que compartilham do mesmo objetivo, de transformar a sociedade?

Com esse painel de empreendedores sociais de diversos países, e de diversas áreas de atuação, quis mostrar que é um movimento mundial e muito rico e diversificado.
Escolhi esses 18 nomes, depois de uma pesquisa extensa, na qual eu fui buscando pessoas com ideias inovadoras, de baixo custo e alto impacto social, que soubessem se comunicar bem e cujos trabalhos teriam imagens às quais eu teria acesso. Foi muito difícil escolher, porque tive que deixar de fora milhares de pessoas brilhantes. É por isso que estou pensando em fazer uma série de televisão, para justamente apresentar as várias iniciativas ao redor do mundo. Busquei em livros, internet e na rede Ashoka, um grande celeiro de empreendedores sociais. Com o filme, você passa a entender que os transformadores podem estar na área da educação, da saúde, do meio ambiente, dos direitos humanos, da economia, em qualquer área. O filme passa a mensagem de que todo mundo pode mudar o mundo, não importa em que setor. Seja ele privado, governamental ou social. Qualquer pessoa pode fazer a diferença. O que mais me chamou atenção foi que estas pessoas passam a plenitude de quem está fazendo o bem.

Quando esse tema passou a fazer parte da sua vida? Lembra-se de algum momento ou situação que tenha te atraído para a questão?

Minha relação com o empreendedorismo social é antiga. Meu marido é um empreendedor social, presidente do conselho da Ashoka (organização internacional pioneira no fomento do modelo). Por isso, há muitos anos tenho escutado histórias lindas de pessoas que provocam impactos positivos a seu redor. Aos poucos, fui amadurecendo a ideia de fazer um filme sobre elas. Quando decidi de fato filmar “Quem se Importa”, mergulhei de cabeça nessa temática e me aprofundei nas pesquisas, conversando com diversas pessoas, entre elas Bill Drayton e David Bornstein, dois grandes conhecedores do assunto.
Você é uma liderança na sua área, utilizando o cinema para inspirar as pessoas. Como cada um de nós pode se estimular e virar um agente transformador em busca de um mundo melhor?

Sim, basta ter consciência de seu próprio poder de transformação. Ser um transformador não é uma bênção divina, não cai do céu, precisamos ter uma atitude pró-ativa, parar de apenas reclamar e arregaçar as mangas. Cada vez mais os jovens estão preocupados com o coletivo. Esta nova mentalidade, diferente da dos anos 80, voltada para o consumismo, deve ter sido gerada pela necessidade. Afinal, pela primeira vez na história da humanidade, temos um inimigo em comum. A questão ambiental, do esgotamento dos recursos e da nossa própria sobrevivência enquanto espécie nos une. E essa união é algo novo na história da humanidade.
O que acha da proposta do projeto Oficina Lideranças?

Acredito que é uma iniciativa que busca incentivar lideranças, ou mesmo fazer com que estas lideranças repensem seus conceitos. Acho isso muito bacana.

“Quem se Importa” é um projeto que vai além do documentário, que inclui material didático propondo discussão do tema nas escolas e que deve mantê-la envolvida por um bom tempo. Já teve tempo de pensar no próximo filme? A temática social e ambiental também estará presente?

Os jovens estão na idade certa, eles captam facilmente as novas ideias. Eles estão em busca de uma utopia, querem uma causa para abraçar. Eles querem transformar as coisas. Esta é melhor idade para se aprender sobre Empreendedorismo Social.
Queremos levar o filme para o máximo de escolas possível, mostrando que empreendedorismo social é tão importante quanto a matemática.
Tenho vários projetos para futuro, alguns documentários de cunho social, um sobre qualidade de vida, uma ficção sobre a história de um empreendedor. Meus filmes sempre terão alguma mensagem positiva para ser transmitida.


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